Cidades

Demissão em massa e crise na saúde de São Gonçalo

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Cerca de 200 profissionais foram exonerados nesta terça-feira (26). Foto: Arquivo/ Pedro Conforte

O cancelamento do Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF), em São Gonçalo, gerou indignação em pacientes e funcionários do programa. Cerca de 200 profissionais foram exonerados nesta terça-feira (26).

Katia Cilene, de 48 anos, é um exemplo de paciente que lamentou a decisão. Ela tem coxartrose, faz o tratamento de fisioterapia disponibilizado pelo NASF há pelo menos três anos e não andava antes de iniciar as consultas.

"Eu estou desesperada, não quero ficar o dia todo em uma cadeira de rodas ou em uma cama de novo. A minha felicidade é quando vou para a fisioterapia e volto com o mínimo de dor. O programa devolveu a minha independência. O tratamento me ajudava a viver", desabafou.

O motoboy Fernando Luiz Batista, 21 anos, relata que sofreu um acidente de motocicleta em agosto do ano passado e desde setembro os atendimentos mudaram a sua vida.

"O NASF me ajudou a caminhar novamente. Cheguei na unidade usando duas moletas, não conseguia tocar o meu pé esquerdo no chão. Hoje em dia eu consigo andar, com um pouco de dificuldade, mas consigo. Fico imaginando quantas famílias estão preocupadas e sem saber o que fazer, assim como eu", contou.

De acordo com funcionários, o NASF, que foi criado em 2008, realizou mais de 500 mil atendimentos somente em 2020. As equipes eram formadas por educador físico, psicólogo, assistente social, nutricionista, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, terapeuta ocupacional e farmacêutico, que atuavam em 25 núcleos presentes em todas as unidades de saúde, polos sanitários e academias da saúde do município.

Para uma funcionária que foi exonerada e prefere não ser identificada, o mais preocupante é o futuro dos pacientes em tratamento, principalmente os acamados e que recebem atendimento domiciliar. Além disso, ela alerta para uma possível lotação das unidades de saúde do município.

"Fazíamos um trabalho de prevenção. A gente evita que lá na frente o paciente tenha uma complicação e precise se internar. O objetivo é sempre desafogar a rede pública e o pronto-socorro. Infelizmente a política aqui é suja e não está preocupada com o paciente, só com o bolso dela", afirmou.

Vacinação

Além do cancelamento do programa e da demissão em massa, os profissionais da saúde que trabalhavam no NASF foram surpreendidos com a notícia de que não receberão a vacina contra a Covid-19, mesmo atuando durante a pandemia.

"Para nossa surpresa não fomos inseridos na campanha de vacinação. Tem posto de saúde que mudou todos o funcionários. As pessoas que entraram foram inseridos na campanha, mas quem realmente trabalhou na linha de frente, não", denunciou um funcionário.

De acordo com outra profissional, o aviso da suspensão da vacinação foi inesperado e causou revolta a todos. "É um direito meu! A vacina já veio contabilizada para a nossa categoria, o que vão fazer com elas?", questionou.

Governo Federal

Desde novembro de 2019, o Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica e a sua continuidade passaram a ser responsabilidade do gestor municipal. A medida faz parte da portaria Nº 2.979, publicada pelo Governo Federal.

Segundo a nota técnica, com as diretrizes do programa, divulgada em janeiro de 2020, "o gestor municipal passa a ter autonomia para compor suas equipes multiprofissionais, definindo os profissionais, a carga horária e os arranjos de equipe. O gestor municipal pode então cadastrar esses profissionais diretamente nas equipes de Saúde da Família (eSF) ou equipes de Atenção Primária (eAP), ampliando sua composição mínima".

Questionada quanto ao cancelamento do programa e a vacinação dos profissonais, a Prefeitura de São Gonçalo não se pronunciou.

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